domingo, 12 de julho de 2020

UM PÁSSARONO CÉU


UM PÁSSARO NO CÉU
(Ivan Pegoraro)




A Cordilheira era imensa e se prolongava na distância do olhar. A separação foi inevitável embora injustificável à luz do tempo. Ele permaneceu de um lado e ela do lado oposto, sem meios de contatos a não ser pela natureza que oferecia todos os sentidos. Naquele tempo a comunicação era difícil e se fazia ou por mensageiros ou definitivamente pela direção a ser tomada por quem queria fazer contato. Ou seja, longas caminhadas pelos terrenos inóspitos daquela Cordilheira. Ela se chamava, Cordilheira dos Frazers e era habitada por poucas famílias aventureiras a cônscios de que viver ali era perigosamente atraente. As florestas naquele verão transportavam perfumes diversos das folhagens da primavera. Ruídos noturno lembravam que havia vida selvagem em abundancia por toda a região. Viver ali era conhecer os sentidos e se comunicar por meio das mais profundas observações e transferência de sentimentos. Com os anos, ambos em cada parte da Cordilheira conseguiram se comunicar com os pássaros; aqueles que de manhã vinham até a janela para recolher os petiscos que tanto um quando outro lhes ofereciam.  Certa ocasião um dos pássaros captou a mensagem que ela com tanto sentimento lhe transmitia e num gesto de gratidão fez-lhe perceber que iria transportar a mensagem para o outro lado da Cordilheira, a fim de ele soubesse da sua existência. O pássaro voou aquela longa distancia e ao cair da tarde pousou em frente a janela da casa dele. Ao vê-lo, passou a transmitir a mensagem num canto doce, longo e profundamente melodioso fazendo-o imediatamente prestar atenção naquele lamento do final de tarde. Diferente do que estava acostumado a ouvir  passou a prestar mais atenção e se aproximou do pássaro. Este não se assustou e sim transmitiu mais trinados melodiosos e insistentes, fazendo com que ele começasse a perceber que ali havia uma mensagem. Parou de repente bem perto do pássaro que continuou a cantar. E assim, aquele que seria um canto natural transformou-se numa mensagem que se traduzia na sua mente, tal qual a leitura de uma carta escrita e bem formulada.  Após ter recepcionado a mensagem, o pássaro interrompeu a sua manifestação e ficou ali.  Entendendo a mensagem de que ela estava bem do outro lado da Cordilheira, ele também retribuiu a comunicação e conseguiu enviar pelo mesmo pássaro notícias suas, dizendo-lhe que estava bem e que muito em breve conseguiria transpor os obstáculos da Cordilheira para tê-la consigo. As barreiras seriam muitas e os perigos incertos e latentes.  Mas se ambos conseguiram se comunicar com os pássaros, não haveria porque não vencer a distância dos elementos. 

E assim, o pássaro passou a ser o agente comunicador entre aqueles dois entes separados e distantes. Porém, numa súbita incerteza e infinita tristeza, certo dia, no final de tarde esperado, ele percebeu que o pássaro se atrasara mais do que o normal. Aflito, entrava e saia de sua pequena casinha e olhava para o céu. O sol já se avermelhava nos confins da Cordilheira, quando enfim percebeu algo no céu. Era seu pássaro?????? Semicerrou os olhos e concluiu que não poderia ser o seu pássaro. Atento e desesperado identificou uma águia que rodava e rodava, passando logo depois a se distanciar até se perder de vista. A longa caminhada se antecipou...