sábado, 27 de abril de 2019



VESTINDO   VESTIDOS !!
(Ivan Pegoraro – Londrina)

De repente me vi envolvido com vestidos, sapatilhas, blusas, saias e arquinhos.  Mas, sem sequer relutar um único minuto sequer, percebi que vestir o vestido naquela circunstancia era extremamente agradável e contagiante. Que alegria eu estava. Confesso nunca pensei que vestir vestidos não me fizesse passar vergonha. Obviamente cabe esclarecer aqui que não tenho absolutamente nada com quem gosta de vestir vestidos, seja ele homem ou mulher. O caso em tela envolvia a minha pessoa que ao longo dessas minhas tantas décadas jamais havia vestido – do verbo vestir – vestido.  A atenção estava francamente toda inclinada sobre minha pessoa, que tinha de fazer coincidir o sapato de salto com a saia ou vestido.  A blusa com a cor do cabelo e até o arquinho –tiara chama-se – com o resto da roupa. Se não mantivesse toda a atenção, era imediatamente chamado a atenção. Então prossegui, tentando fazer o melhor sob aqueles olhares atentos.  De repetente ouço um grito estridente e ansioso: “- Vovô você colocou uma sapatinho de cada cor naquela boneca de vestido azul. Presta atenção!!!”   Há!!!! Esqueci-me de dizer, estava com minha netinha Luiza de 4 anos, em meio a essa operação com as bonequinhas Polly, esta febre da petizada, cuja coleção acompanha inúmeros acessórios para você vestir e desvestir as personagens.   Jamais pensei que vestir blusas, vestidos e sapatinhos fosse tão bom, principalmente com esta minha professora.







quarta-feira, 24 de abril de 2019

O FOGO DO INFERNO
(Um história real)
(Ivan Pegoraro)

De fronte a fornalha da padaria de meu pai, as chamas flamejantes e intensas expeliam labaredas formidáveis. Segurando a bíblia com a mão direita, me aproximei daquela bocarra e quase com sentimento de repugnância, lancei-a nas terríveis chamas e a vi serem consumidas em instantes. No dia seguinte, na aula de religião, me aproximei do Irmão Marista Lúcio, meu mestre de religião e relatei a ele que havia jogado a bíblia no fogo. Mas por que isso me perguntou? Ao que lhe respondi. Irmão, você nos ensinou que toda bíblia que não tivesse registrado no início a palavra “imprimatur” seria ilegítima, falsa, punitiva, sacrílega e quem a tivesse em casa iria para o inferno, e não sendo católica romana deveria ser destruída de imediato. Assim o fiz. A bíblia incendiada tinha sido um presente de uma tia, Isaura, irmã de minha mãe que era e hoje com mais de 90 anos continua sendo protestante. O termo imprimatur identifica todas as publicações católicas sob sua responsabilidade e edição. E segundo os ensinamentos dos Maristas daquela época, tudo que fosse contrário, era ilegítimo, falso ou desvirtuado da verdade. Aquela bíblia não continha o Imprimatur, mas sim uma singela e ingênua dedicatória. Lembro-me bem dela. Com o passar dos anos fui raciocinando e até hoje não consigo me conformar de ter feito imensa asneira. Fui levado pela influência de um ensinamento de então. Mas minha consciência jamais me abandonou e sempre que algo neste sentido é levantado, aflora à tona aquele episódio de minha infância. Eu com meus dez anos, incendiando uma bíblia, tão sagrada como qualquer outra de qualquer religião. Hoje com 70 anos, ouso pedir perdão por este ato insano e influenciado de maneira negativa. Se apenas um irmão protestante puder agora me perdoar, estarei à salvo do fogo do inferno. Este fogo que me atormenta desde então.





O DEUS DO OLIMPO ILÓFFOT
(Ivan Pegoraro – Londrina)
Naquele Monte Olimpo, ILÓFFOT era o Deus maior. O Deus principal entre deuses menores. Diante de seu trono pensando em ser maior do que o Rei-Sol, de quem soube por ouvir falar, exclamou “L’État c’est moi" ( O Estado Sou Eu). Seu amigo no recinto não entendeu e com ar de espanto tentou coçar os cabelos. Lembrou, porém que não os tinha. Deu de ombros, ao que Ilóffot gritou de pleno pulmões. “–Mas que barbaridade. O que pensa esse reizinho da França em querer ser mais do que eu. Vai lá e prenda-o imediatamente.” O Deusinho amigo olhou para os demais Deuses menores do Olimpo e percebeu que todos estavam ou coçando as unhas, ou conferindo o telefone celular, alguns pestanejavam. Deixaram para o amigo cumprir a ordem da prisão já que a questão envolvia franceses. Assim retornando ao passado de forma surpreendente pelo buraco negro daquela Corte, o Deus amigo desembarcou no tempo antigo de Luiz IV e procurando-o pessoalmente apresentou-lhe a ordem de prisão emitida pelo Deus dos Deuses. “-Mas como isso é possível” exclamou o Rei-Sol. “- sem processo, sem julgamento, sem instrução. Nós não estamos no século XXI, nem naquele país tropical.” Imediatamente, como sua majestade não é bobo nem nada, foi até a balaustrada frontal de seu castelo e bradou em alto e bom som para todos seus concidadãos. “-Povo da França. Me ajudem. O Deus Illófot do Monte Olimpo me mandou prender, pois quer ser mais do que eu.” O povo escutou com atenção aquele grito de socorro e diante da possibilidade do estrangulamento do Rei que representava todos franceses, não se acovardou. Correram em sua direção, fizeram com seus corpos um escudo protetor e não só impediram a prisão do Rei-Sol, como também escorraçaram com o Deus Menor, mando-o para os quintos do Monte Olimpo. Há sim, os demais Deuses menores continuaram a limpar as unhas, formar boca de trombone e consultar o smarthpone para ver o que a mídia estavam falando deles.