quarta-feira, 24 de abril de 2019

O FOGO DO INFERNO
(Um história real)
(Ivan Pegoraro)

De fronte a fornalha da padaria de meu pai, as chamas flamejantes e intensas expeliam labaredas formidáveis. Segurando a bíblia com a mão direita, me aproximei daquela bocarra e quase com sentimento de repugnância, lancei-a nas terríveis chamas e a vi serem consumidas em instantes. No dia seguinte, na aula de religião, me aproximei do Irmão Marista Lúcio, meu mestre de religião e relatei a ele que havia jogado a bíblia no fogo. Mas por que isso me perguntou? Ao que lhe respondi. Irmão, você nos ensinou que toda bíblia que não tivesse registrado no início a palavra “imprimatur” seria ilegítima, falsa, punitiva, sacrílega e quem a tivesse em casa iria para o inferno, e não sendo católica romana deveria ser destruída de imediato. Assim o fiz. A bíblia incendiada tinha sido um presente de uma tia, Isaura, irmã de minha mãe que era e hoje com mais de 90 anos continua sendo protestante. O termo imprimatur identifica todas as publicações católicas sob sua responsabilidade e edição. E segundo os ensinamentos dos Maristas daquela época, tudo que fosse contrário, era ilegítimo, falso ou desvirtuado da verdade. Aquela bíblia não continha o Imprimatur, mas sim uma singela e ingênua dedicatória. Lembro-me bem dela. Com o passar dos anos fui raciocinando e até hoje não consigo me conformar de ter feito imensa asneira. Fui levado pela influência de um ensinamento de então. Mas minha consciência jamais me abandonou e sempre que algo neste sentido é levantado, aflora à tona aquele episódio de minha infância. Eu com meus dez anos, incendiando uma bíblia, tão sagrada como qualquer outra de qualquer religião. Hoje com 70 anos, ouso pedir perdão por este ato insano e influenciado de maneira negativa. Se apenas um irmão protestante puder agora me perdoar, estarei à salvo do fogo do inferno. Este fogo que me atormenta desde então.





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