UM PÁSSARO NO CÉU
(Ivan Pegoraro)
A Cordilheira era imensa e se prolongava na distância do
olhar. A separação foi inevitável embora injustificável à luz do tempo. Ele
permaneceu de um lado e ela do lado oposto, sem meios de contatos a não ser
pela natureza que oferecia todos os sentidos. Naquele tempo a comunicação era
difícil e se fazia ou por mensageiros ou definitivamente pela direção a ser
tomada por quem queria fazer contato. Ou seja, longas caminhadas pelos terrenos
inóspitos daquela Cordilheira. Ela se chamava, Cordilheira dos Frazers e era
habitada por poucas famílias aventureiras a cônscios de que viver ali era
perigosamente atraente. As florestas naquele verão transportavam perfumes
diversos das folhagens da primavera. Ruídos noturno lembravam que havia vida
selvagem em abundancia por toda a região. Viver ali era conhecer os sentidos e
se comunicar por meio das mais profundas observações e transferência de
sentimentos. Com os anos, ambos em cada parte da Cordilheira conseguiram se
comunicar com os pássaros; aqueles que de manhã vinham até a janela para
recolher os petiscos que tanto um quando outro lhes ofereciam. Certa ocasião um dos pássaros captou a
mensagem que ela com tanto sentimento lhe transmitia e num gesto de gratidão
fez-lhe perceber que iria transportar a mensagem para o outro lado da
Cordilheira, a fim de ele soubesse da sua existência. O pássaro voou aquela
longa distancia e ao cair da tarde pousou em frente a janela da casa dele. Ao
vê-lo, passou a transmitir a mensagem num canto doce, longo e profundamente melodioso
fazendo-o imediatamente prestar atenção naquele lamento do final de tarde.
Diferente do que estava acostumado a ouvir
passou a prestar mais atenção e se aproximou do pássaro. Este não se
assustou e sim transmitiu mais trinados melodiosos e insistentes, fazendo com
que ele começasse a perceber que ali havia uma mensagem. Parou de repente bem
perto do pássaro que continuou a cantar. E assim, aquele que seria um canto
natural transformou-se numa mensagem que se traduzia na sua mente, tal qual a
leitura de uma carta escrita e bem formulada. Após ter recepcionado a mensagem, o pássaro
interrompeu a sua manifestação e ficou ali. Entendendo a mensagem de que ela estava bem do
outro lado da Cordilheira, ele também retribuiu a comunicação e conseguiu
enviar pelo mesmo pássaro notícias suas, dizendo-lhe que estava bem e que muito
em breve conseguiria transpor os obstáculos da Cordilheira para tê-la consigo.
As barreiras seriam muitas e os perigos incertos e latentes. Mas se ambos conseguiram se comunicar com os
pássaros, não haveria porque não vencer a distância dos elementos.
E assim, o pássaro passou a ser o agente comunicador
entre aqueles dois entes separados e distantes. Porém, numa súbita incerteza e
infinita tristeza, certo dia, no final de tarde esperado, ele percebeu que o
pássaro se atrasara mais do que o normal. Aflito, entrava e saia de sua pequena
casinha e olhava para o céu. O sol já se avermelhava nos confins da
Cordilheira, quando enfim percebeu algo no céu. Era seu pássaro??????
Semicerrou os olhos e concluiu que não poderia ser o seu pássaro. Atento e
desesperado identificou uma águia que rodava e rodava, passando logo depois a
se distanciar até se perder de vista. A longa caminhada se antecipou...
Nenhum comentário:
Postar um comentário