terça-feira, 13 de abril de 2021

OS TRÊS MUNDOS DE HENRY BOREL

(Ivan Pegoraro)

Henry Borel tinha três mundos. O primeiro aquele restrito a sua imaginação onde os bonequinhos de Super-homens e outros heróis era sua companhia de todo dia, e ali estavam para lhe proteger. Com eles conversava e dentro do seu mundo certamente não entendia porque não lhes socorriam quando tanto precisava. Seus heróis permaneciam no canto do quarto onde foram deixados e Henry Borel não entendia o fato de poderem voar e serem invencíveis, porém se mantendo omissos tantas vezes. Quatro anos não permite compreender a dimensão da maldade. Não é compreensível isso!  O que é maldade e a crueldade nesse pouco tempo de vida onde um simples agrado posterior releva toda a dor e o perdão é natural?  Nesse mundinho de Henry Borel ele sempre esteve protegido, quando sozinho ou com seus heróis de sua imaginação.              O segundo mundo de Henry Borel era aquele, onde o monstro de sua imaginação se tornava real, de carne e osso, movido pela maldade que ele não compreendia e que lhe impingia castigos e dores, ferimentos, espanto e temor.  Nesse mundo de violência incontida ele sofria duros golpes, provocativos e insanos, e, calado sob ameaça tinha o temor de mais dores se relatasse qualquer dos episódios hediondos que sofria.  Perdido na incompreensão de uma criança inocente subjugou-se ao monstro que andava pela  sua casa e que tinha o nome diminutivo de Dr. Jairinho.  Na sombra da delicadeza deste nome se apresentou o demônio transvestido de humano, e contra todas as defesas dos heróis de Henry Borel, atacou-o de tal modo que a consciência dos mais exacerbados dos mortais não consegue admitir; não consegue entender; não consegue sequer imaginar.  Neste mundo cruel de Henry Borel todos nós conseguimos adentrar por meio de nossa imaginação, mas não conseguimos construir o fato que levou a sua morte, pois foi tão ignominioso que se cria um obstáculo capaz de evitar o seu desfecho. 

O monstro das aventuras do menino subjugou lhe, sem que seus heróis pudessem lhe prestar socorro.         O terceiro mundo de Henry Borel era aquele com seu papai, onde nos finais de semana podia curtir a amizade sincera do sangue de seu sangue. Então sim, longe da caverna onde residia o monstro, mas sob ameaça latente do silencio imposto sob pena de retaliação, podia curtir o seu pai, seguro de que sua inocência não seria violada, nem ferida, nem maltratada. Pois então! Henry Borel foi ceivado com apenas quatro anos, sem conseguir identificar a maldade humana; a crueldade da besta. Sem sequer entender.  Morreu em silêncio, sem poder gritar e sem poder pedir socorro.  Assistido apenas pelos seus heróis que de pé no armário do quarto nada puderam fazer. 

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