ONDE ESTÃO NOSSAS CRIANÇAS
(Ivan Pegoraoro)
No final da tarde ou no começo
da manhã, observo quando caminho, ou quando retornou do meu escritório, inúmeras
criadas, senhoras, adolescentes e também homens em geral, passeando com seus
cães no entorno dos prédios onde resido, neste aglomerado de edifícios que é a
Gleba, em Londrina. Na grande maioria dos jardins desses condomínios existe a
placa proibindo que os animais façam suas necessidades por ali, alertando o
condutor que aquele local não é exatamente próprio para isso. É verdade que já existe
uma consciência ecológica agindo de forma natural para o recolhimento em
saquinhos de plástico das fezes do cãozinho durante o passeio, mas também é
certo que muitos não fazem isso. Mas a
abordagem que faço aqui não diz respeito exatamente aos cães que precisam sair
de manhã e no entardecer para esticar suas canelas e usar os espaços públicos
para suas necessidades. E sim, sinto
falta das crianças que antigamente também passeavam pelas calçadas, tomando sol
ou respirando um ar mais puro do que aquele do ambiente fechado do apartamento.
Se for fazer uma pesquisa, os cães ganham de lavada, pois se fazem-se muito
mais presentes nos períodos agradáveis do dia do que propriamente as crianças.
E fiquei meditando a razão dessa disparidade, e cheguei a algumas conclusões
que evidentemente podem não ser verdadeiras. A primeira, que cães estão
substituindo os filhos em grande parte das famílias, por razões que não me é
totalmente conhecida. O casal se recusa a ter os transtornos e dificuldades de
criar uma criança pois embaraça e limita suas atividades e opta por um
companheiro que de certo modo é mais simples de manter. É tratado e chamado de
filho. Segundo, porque a relação entre o cão e o humano é tão forte que cria
laços de ternura comparáveis entre os humanos. Neste relacionamento homem e
animal, o cão não vê e nem distingue nenhuma importância se seu dono reside em
uma mansão, num apartamento de um por andar ou mesmo na rua, qual a sua
religião ou a cor de sua pele. Um local adequado com água limpa e comida
suficiente, além de cuidado, carinho e
respeito são o suficiente para conquistar a confiança dele, que por isso,
recebeu o título de melhor amigo do homem, antes mesmo da frase ser dita pela
primeira vez. O Cachorro retribui isso, sem dúvida pois está sempre disposto a
acompanhar o humano, não difama ninguém e não se importa com a aparência dos
outros. Por vezes, a ligação é tão forte, que se o dono adoece, o cão fica ao
pé da cama lhe esperando levantar. Na literatura ensina-se que o cão vê o homem
como o chefe da matilha e por isso lhe presta obediência, aliado ao bom
tratamento que recebe. Um dos exemplos dessa forte ligação foi a menina
ucraniana Oxana Malaya, a chamada garota-cachorro. Cuidada e criada por cães,
adaptou-se ao ambiente no quintal de casa e viveu cinco anos como membro da
matilha («Oxana Malaya, the Ukrainian Dog Girl» (em inglês). Extraordinary
children.) É desnecessário dizer que cada família opta pela escolha que fizer e
ninguém tem nada com isso. Concordo plenamente.
Mas me permito perguntar, onde estão nossas crianças???? Será receio de leva-las a tomar sol, ou um ar
agradável do final de tarde? Medo da violência; falta de tempo???? O cãozinho pode passear com a criada. A criança não????? Enfim, onde estão nossas
crianças???
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