O ELEVADOR.
(Ivan Pegoraro)
O elevador é um ótimo veículo para aferir a sua dose de
constrangimento ou mesmo timidez. Principalmente quando adentra ao recinto
aquele ser que poucas vezes você teve contato ou conseguiu com muito esforço,
cumprimentar. Não necessariamente nesta
ordem, porque a situação pode ser invertida. Você adentra e o ser lá já está bem
posicionado olhando para o celular. Na
verdade, o ser começou a manusear o celular quando percebeu que o módulo ia
parar naquele andar. Então, qualquer que seja a hipótese é melhor você desde
logo dizer, -Bom dia, ou mesmo, -
Boa tarde e na sequencia enquanto ambos ou todos torcem pra chegar logo
no destino a solução sempre excelente é falar do tempo. -Puxa mas está calor mesmo, né? Ou então, -Parece que vai chover hoje,
vi na previsão. Dependendo da resposta é o tempo necessário para aliviar a
pressão e passar o formigamento na sola do pé.
Se é uma dama e o destino é o térreo, você deve fazer de conta que
segura a porta e diz -Até logo, mas não saia imediatamente atrás porque é
indelicado e certamente deixará a passageira incomodada. Três ou quatro segundo
já tranquiliza e mediará uma distancia folgada em direção ao estacionamento.
Mas que ótimo é o contato com pessoas agradáveis e educadas, que ao invés de
olhar para o celular, olha para os teus olhos e conversa amenidades naturais
naqueles poucos segundos de companhia onde ambos usam o mesmo elevador. Na verdade, é um prêmio o prédio onde os condôminos
se conhecem e são simpáticos uns com os outros, pois afinal têm em comum algo
muito importante que é exatamente o elevador.
Na próxima vez que for utilizá-lo irei repetir a minha cantilena de
sempre, principalmente quando for necessário a minha iniciativa. Não tenho problemas
no meu condomínio não ! Ao contrário. Trata-se de uma imensa família de pessoas
agradáveis e sinceras. Mas nas conversas que temos aleatoriamente com amigos e
conhecidos, ouvimos relatos de arrepiar os cabelos, de vizinhos que são se dão
ao trabalho de levantar a cabeça fechando-se no seu obscuro mundo de simpatia
como se o acompanhante daquele espaço fosse um ser invisível e totalmente imaterial.
Penso que a consequência deste tipo de atitude está interligada a própria formação
da pessoa, agravado as vezes por uma imensa e infinita timidez de origem tão
pessoal que a própria pessoa não consegue superar. Cabe a você vencer esta
barreira, sendo simpático na medida do possível. O elevador é assim ! O teste do compartilhamento supremo de um
espaço restrito. Nem quando você está sozinho nele você estará solitário.
Olhando para cima, num dos cantos, verá uma câmera que te acompanha. Se quiser dizer
um bom dia aos porteiros, é só acenar.
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