sábado, 9 de maio de 2020

MINHA MÃE


MINHA MÃE
(Ivan Pegoraro)


Falar da mãe é simples. Normalmente começa assim: “Ser mãe é...”   Buscando nos pontos mais inacessíveis da memória resgatamos as imagens, não só da nossa, mas de todas as mães. Aquelas que embalaram nossos sonhos de crianças; aquelas que fortaleceram nossas fraquezas do então;  aquelas que concretaram as vias de nossas artérias; aquelas que choraram conosco nos momentos decisivos de nossas vidas.  Nessas melodiosas lembranças, quantas vezes nossas mães não tiveram razão, mas pouco puderam fazer senão chorar.  Ao povoar essas nossas memórias é quase certo que por mais que queiramos, as imagens do resgate de nossa mãe, não é mais como um filme de começo, meio e fim. Quanto mais a vida passa, são fragmentos que ficam daquela imagem que um dia foi real. Como uma foto fixada na parede, sem movimento, sem odor e sem massa física para tocar. Mas o que mais eleva a importância dela em nosso contexto é conhecer, depois de passado o tempo que passou, é a frieza com que enfrentava a dor, as vezes diante do sofrimento de seu filho ou de sua filha.  Alí sempre esteve o esteio e a razão maior de ser mãe.  Conseguir superar esses obstáculos sem amarguras aparente, mesmo porque o seu tempo de conviver com elas, essas amarguras, era na solidão da madrugada, sozinha no leito silencioso do seu canto preferido.   Você, eu e todos nós, carregamos conosco toda a transferência informe da força de nossa mãe que sabiamente olhou com seus olhos a nossa vida, amparando-nos, chorando por nós como falei, mas não a substituindo ( a vida) porque o destino, esse não pôde por ela ser reparado, porque nós o escolhemos. E ele é a nossa vida.  Mas...se o destino é nosso, os sonhos também são. Assim, nesse momento, minha mãe está aqui comigo. Mas não sou eu neste presente. Sou eu no passado, naquele dia longínquo quando nasci e recebi o amparo daqueles braços pela primeira vez. Ali tive a certeza de que não cairia no vácuo infinito da solidão. Minha mãe me preparou para não cair. E assim como não fui ao chão creio que completei o ciclo da matéria. Lembrar de minha mãe e não chorar, porque ela chorou por mim.

Um comentário:

  1. Maravilhoso texto.
    Estaremos sempre junto de nossas mães, são elas que carregam o fio invisível da vida que nos une e une todas as pessoas.

    ResponderExcluir