quinta-feira, 11 de junho de 2020

O BANCO DE PEROBA ROSA


O  BANCO  DE  PEROBA  ROSA
(Ivan Pegoraro)


Aquele banco de peroba rosa estava ali há anos; dezenas de anos resistindo à chuva, ao vento, a noite e ao dia. Quem ali sentava ficava de costas para as janelas baixas daquela edificação imponente e modesta ao mesmo tempo. Imponente pelo que representava e modesta nas suas condições de arquitetura e engenharia. Mas tinha naquele gramado fantástico, a sombra inebriante de uma formosa árvore que protegia aquele banco mágico. No passado distante, quase com a mesma idade deste banco ele ali se sentara com sua amada e de mãos dadas trocaram singelas juras de amor eterno. O frescor da sombra passageira transmitia aquele casal a paz e as promessas irremediavelmente tolhidas pelo destino implacável do tempo. Quis o acaso que aqueles projetos traçados não fossem realizados pois obstáculos se apresentaram e houve a separação do casal perdendo contato um com o outro e assim continuou a vida. Ele jamais soube dela que simplesmente desaparecera no mormaço do tempo.  Mas, aquela edificação era seu local de trabalho e durante as décadas que passaram, continuou olhando de sua sala para aquele banco de peroba rosa. E cada vez que direcionava seus olhos para aquele local ele de forma súbita e repetidamente, via a silhueta daquela mulher, e  da mesma forma nítida quando piscava os olhos para confirmar sua visão, a imagem desaparecia.  Muitas vezes se levantou e foi até o banco de peroba rosa como para confirmar a sua visão. Passava as mãos pelas suas bordas como se pudesse tocar o corpo de quem com ele havia ali se sentado. E confirmava que realmente era uma visão. Seus amigos de trabalho já estavam acostumados com aquela repetição e viram e compartilharam o sofrimento daquela pessoa, sem entender o motivo daqueles instante de profunda emoção.  Respeitavam o seu sentimento e ninguém indagava o motivo de tal iteração. Aceitavam o fato como se fosse um exercício de relaxamento, ou uma mania desconhecida, e não mais se surpreendiam com seus olhos marejados.  Certa ocasião, já com idade avançada, sobrecarregado de tarefas naquele local de trabalho prestando seu labor a pessoas necessitadas, ele mais uma vez, como muitas no decorrer daquelas décadas, levantou seus olhos e fixou-os no banco de peroba rosa. Mais uma vez como milhares de vezes aconteceu, viu a silhueta daquela mulher. Mais vez piscou seus olhos e voltou a olhar firmemente como sempre o fez...mas desta vez a imagem não desapareceu. Com suas mãos trêmulas e não acreditando no que via, levou-as aos olhos para confirmar a visão inacreditavelmente verdadeira; uma reprodução real da cena que participou tantos anos atrás. Levantou com cuidado como se sua pressa pudesse assustar aquela imagem. Derrubou a cadeira o que fez colegas o olharem assustados. Com passos trôpegos, esfregado seus olhos desviou da cadeira no chão e avançou pela porta.  As pessoas o olhavam pela janela enquanto que com o braço apontado em direção ao banco de peroba rosa exclamou alto e em bom som: - É ela. É ela. -  Aproximou-se da parte de trás do banco de peroba rosa e abraçou o espaço vazio onde a imagem teimava em permanecer. Ainda ficou alguns segundos abraçando a si mesmo, antes de tombar inconsciente na borda de trás do banco de peroba rosa. Seus colegas correram. Nada puderam fazer, seu sofrido coração parara de bater,  apenas perceberam um sorriso franco em seus rosto coberto de lágrimas que ainda escorriam.

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