O BANCO DE PEROBA ROSA
(Ivan Pegoraro)
Aquele banco de peroba rosa estava ali há anos; dezenas de
anos resistindo à chuva, ao vento, a noite e ao dia. Quem ali sentava ficava de
costas para as janelas baixas daquela edificação imponente e modesta ao mesmo
tempo. Imponente pelo que representava e modesta nas suas condições de
arquitetura e engenharia. Mas tinha naquele gramado fantástico, a sombra inebriante
de uma formosa árvore que protegia aquele banco mágico. No passado distante,
quase com a mesma idade deste banco ele ali se sentara com sua amada e de mãos
dadas trocaram singelas juras de amor eterno. O frescor da sombra passageira
transmitia aquele casal a paz e as promessas irremediavelmente tolhidas pelo
destino implacável do tempo. Quis o acaso que aqueles projetos traçados não
fossem realizados pois obstáculos se apresentaram e houve a separação do casal perdendo
contato um com o outro e assim continuou a vida. Ele jamais soube dela que
simplesmente desaparecera no mormaço do tempo.
Mas, aquela edificação era seu local de trabalho e durante as décadas
que passaram, continuou olhando de sua sala para aquele banco de peroba rosa. E
cada vez que direcionava seus olhos para aquele local ele de forma súbita e
repetidamente, via a silhueta daquela mulher, e da mesma forma nítida quando piscava os olhos
para confirmar sua visão, a imagem desaparecia.
Muitas vezes se levantou e foi até o banco de peroba rosa como para
confirmar a sua visão. Passava as mãos pelas suas bordas como se pudesse tocar
o corpo de quem com ele havia ali se sentado. E confirmava que realmente era
uma visão. Seus amigos de trabalho já estavam acostumados com aquela repetição
e viram e compartilharam o sofrimento daquela pessoa, sem entender o motivo
daqueles instante de profunda emoção.
Respeitavam o seu sentimento e ninguém indagava o motivo de tal
iteração. Aceitavam o fato como se fosse um exercício de relaxamento, ou uma
mania desconhecida, e não mais se surpreendiam com seus olhos marejados. Certa ocasião, já com idade avançada,
sobrecarregado de tarefas naquele local de trabalho prestando seu labor a
pessoas necessitadas, ele mais uma vez, como muitas no decorrer daquelas
décadas, levantou seus olhos e fixou-os no banco de peroba rosa. Mais uma vez
como milhares de vezes aconteceu, viu a silhueta daquela mulher. Mais vez
piscou seus olhos e voltou a olhar firmemente como sempre o fez...mas desta vez
a imagem não desapareceu. Com suas mãos trêmulas e não acreditando no que via,
levou-as aos olhos para confirmar a visão inacreditavelmente verdadeira; uma
reprodução real da cena que participou tantos anos atrás. Levantou com cuidado
como se sua pressa pudesse assustar aquela imagem. Derrubou a cadeira o que fez
colegas o olharem assustados. Com passos trôpegos, esfregado seus olhos desviou
da cadeira no chão e avançou pela porta.
As pessoas o olhavam pela janela enquanto que com o braço apontado em direção
ao banco de peroba rosa exclamou alto e em bom som: - É ela. É ela. - Aproximou-se da parte de trás do banco de
peroba rosa e abraçou o espaço vazio onde a imagem teimava em permanecer. Ainda
ficou alguns segundos abraçando a si mesmo, antes de tombar inconsciente na
borda de trás do banco de peroba rosa. Seus colegas correram. Nada puderam fazer,
seu sofrido coração parara de bater, apenas perceberam um sorriso franco em seus
rosto coberto de lágrimas que ainda escorriam.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCom certeza ela veio buscá-lo para viverem o amor eterno❤️!
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