O ENTREGADOR DE FLORES
(Ivan Pegoraro)
Não eram adolescentes, mas eram jovens. Quis o destino que se
separassem sem um motivo certo. Um voltou para sua cidade, enquanto que o outro
foi fazer seus estudos fora. Os contatos naquela época do pós guerra, era
difícil e a Europa sofria a destruição de todos os seus meios de comunicação.
Cartas levavam semanas e quando chegavam os endereços não existiam. Ruas mudavam
de nome e o casal acabou por perder contato, cada um seguindo sua vida e
constituindo sua família e tendo filhos. Sobreviveram no tempo certos de que as
lembranças eram de apenas um. Certo dia
ele lendo o jornal, já idoso, deparou-se com a notícia de uma homenagem prestada
pela comunidade a uma certa mulher,
querida na sociedade local. Acertou seus óculos de grau e forçou a vista para
confirmar se aquele nome, ela o nome de sua amada de cinquenta nos anos atrás. E era !!!!! Pela foto na reportagem, pelo
nome, pela cidade que prestava a homenagem. Não poderia haver tanta coincidência
assim. Seu coração disparou, sua testa umedeceu e suas mãos tremeram. A
saudades que estava bem alicerçada com concreto misturado com o tempo
imediatamente rachou e seus olhos se lacrimejaram. O tempo voltou para a realidade.
Cada um tinha sua família, seus companheiros de uma vida; seus filhos; seus
netos. Ele então, ainda distante daquela
cidade cuja notícia viu como por encanto disse para si mesmo que não seria
possível deixar esta vida sem que ao menos visse pela ultima vez aquela pessoa
que lhe fora tão cara. Então ficou a meditar o que poderia fazer para ter um
contato visual com aquela pessoa sem que criasse qualquer espécie de problemas,
constrangimento ou situação que levasse ao um dissabor maior e incorrigível. Resolveu então que levaria até ela um buquê de
flores silvestres sem que ele fosse identificado como o remetente. Sabendo que
a homenagem recebida pela cidade fora em razão de serviços prestados a uma
associação de crianças sem teto, comprou uma roupa com guarda-pó e se fantasiou
de entregador de flores. Foi até a floricultura daquela cidade após justificar
a sua família que iria dar uma passeio até a praia, que era caminho, lá encomendou o buquê. Fez um cartão: “Obrigado,
jamais te esqueceremos. Associação...”. Tremendo
e já sabendo o endereço da casa da amada, para lá se dirigiu. Parou o carro.
Ficou pensativo e molhou as flores com as lágrimas que brotavam de seus olhos.
Criando coragem após dizer para si mesmo que nada mais tinha a perder nesta
vida, desceu do carro; parou em frente ao portão; um belo jardim antecedia a
porta social da casa; apontou o dedo para a campainha e antes de
apertar...parou e soluçou. Lá de dentro ouviam-se gritos de crianças... os
netinhos. Voltou a tentar apertar a
campainha...parou mais uma vez. O que
diria??? Como sendo um entregador, entregaria um buquê de flores chorando? E se
não fosse ela a atender a porta? E se
ela lhe reconhecesse? E se seu coração não aguentasse? Então, pálido e a ponto de ter uma síncope cardíaca,
recuou e se preparou para ir embora. Ao virar as costas ouviu uma vozinha de
criança... “-Vovô !!!!” Ele então
voltou-se e olhou para o portão. A baba disse para a criança: “- Ele não é o
seu avô; seu avô está la dentro” Então a criança falou: “- Ele parece meu avô e
está com flores do meu jardim” Surpreso
então lhe disse: “-Qual seu nome” Ela
respondeu: “-Luiza!!!” Ele então lhe estendeu o buque de flores e disse: “Tome
!!!! Coloque essas flores neste teu jardim maravilhoso”. Em seguida, adentrou em seu carro e foi
embora, soluçando e mais cheio de saudades certo de que cumprira com o seu
destino.
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