sábado, 11 de abril de 2020

O CASO GABRIEL - A MORTE O PUXOU PELA MÃO


O CASO GABRIEL
A Morte o Puxou pela mão.
(Ivan Pegoraro)


Gabriel Fernandez morreu com oito anos apenas. Sofreu torturas, maus tratos, agressões de toda espécie infringidas por sua mãe e pelo namorado desta com quem convivia num apartamento pequeno num conjunto habitacional em Los Angeles e que chamava de pai.  Todo o sistema social desta grande cidade falhou, muito embora inúmeros relatos dos abusos tenham chegado até as autoridades. Certo dia, alguns meses antes do evento final e dramático, Gabriel perguntou a sua professora que se era certo apanhar de cinto. A professora indagou algo mais e procurou saber mais detalhes. A criança ne sequencia perguntou se tirar sangue com a fivela  podia?  Respondeu a professora, que não era certo.  No final da aula, ficou meditativa se era o caso de reportar as autoridades a ocorrência. Resolveu que era o caso e em seguida ligou para o Departamento Estadual de Ocorrência à Criança indagando se o caso que relatou era de denúncia. Quem atendeu confirmou que era o caso de denúncia e o registro foi feito. Em seguida a denúncia foi encaminhada ao Serviço Social de Proteção à Criança, que foi até a casa e conversando a Assistente Social com os pais (mãe e namorado), concluiu que não havia nenhuma anormalidade. Não pediu para ver a criança nem para examinar o interior do apartamento.  Alguns dias depois a criança retorna às aulas após mais de uma semana de falta com graves hematomas nos olhos, feridas em recuperação na cabeça, tufos de cabelos faltando, marca de queimaduras na parte de trás do pescoço, feridas em cicratização. Todos na sala de aula se assustam e perguntado pela professora o que aconteceu, responde Gabriel que caiu com a bicicleta.  Novamente ao final da aula a professora liga para o atendimento à criança e denuncia os indícios de maus tratos, e mais uma a assistente social, vai até a casa e não constata nada. Em uma outra ocasião, diante da agressividade que o menino passa a demonstrar e após conversar com ele, a professora liga uma terceira vez. Nada acontece mais uma vez.  Um agente de segurança do sistema de pagamento do auxílio social numa tarde recebe a visita da mãe com os três filhos para receber o auxilio familiar de $630,00 (seiscentos e trinta dólares) por criança. 

Ao passar pela catraca de acesso ao interior da unidade percebe que a criança tem terríveis machucados no braço, na região do pulso, tufos de cabelos arrancados, olhos injetados de sangue com hematomas verdes e arroxeados. Após ter procedido ao saque de seu dinheiro, o segurança indaga o por quê da criança naquele estado. A mãe responde que seu filho teria brigado na rua.  Não satisfeito foi até sua superiora relatou o que viu e perguntou se não seria o caso de denunciar às autoridades aqueles indicativos de violência familiar.  A direção da empresa – que era terceirizada para o Condado de Los Angeles orientou-lhe que não era para se envolver.  Assustado com o que viu, ligou mesmo assim para a Polícia que repassou a informação para aquela mesma entidade social, que foi ao local, entrevistou os pais e ficou por isso mesmo.  Durante a tramitação do processo de homicídio que o Povo de Los Angeles moveu contra os pais, ficou provado que em nenhum momento os assistentes sociais pediram para ver o menino que se encontrava preso nessas visitas, e muitas vezes ali era obrigado a dormir, dentro de um pequeno armário de 80 cm de comprimento por 40 de largura, algemado.  O pai (namorado da mãe) era um brutamontes de 1,90 de altura e pesando 125 quilos e tinha função de segurança.  Gabriel, tinha 8 anos, pesava 40 quilos e media 1,40 m.  Durante a instrução processual ficou claro que dos três filhos somente este sofria maus tratos físico, porque sendo ele o filho do meio, gostava de brincar com a irmã que tinha 6 anos. Isso teria despertado nos pais uma percepção e uma ira de que por isso tinha tendência  e ou era gay e dai todas as surras a ele direcionadas.  Na noite da ultima agressão, Ezequiel, seu irmão mais velho então com 12 anos, contou aos policiais e depois em juízo que o pai (sempre que menciono o pai, entende-se o namorado da mãe com quem morava) depois de ter surrado Gabriel, com socos na cabeça, no rosto, ter passado a faca em sua pele, queimado com cigarros, o levantou com a mão direita no seu pescoço, até a altura do teto. E após o menino ficar sem respiração, abriu a mão fazendo com que Gabriel caísse ao chão já desacordado. Como não respondia à ordem de se levantar, resolveu a mãe ligar para a emergência que compareceu rapidamente, entubaram Gabriel, que ficou em coma dois dias, vindo a falecer no hospital... Durante os depoimentos, não só o médico legista, como também os socorristas e os demais profissionais que atenderam o garoto declararam que em suas vidas jamais viram algo semelhante com relação a tamanha maldade com maus tratos a uma criança.  Bombeiros que estiveram também no local, choraram durante seus depoimentos lembrando do que viram.  A defesa dos pais tentou descaracterizar o crime de homicídio triplamente qualificado para crime de ódio pelo fato do garoto ser gay. A diferença entre um e outro nos Estados Unidos é que o primeiro pode ter a pena de morte enquanto que o segundo, com dez anos os malditos estariam soltos. Obviamente que esta tentativa não foi acolhida e os pais foram julgados pelo homicídio, mesmo porque a questão de ser gay ou não, convenhamos para uma criança de 8 anos porque brinca com a irmã, não convence. E nem seria motivo. Os assistentes sociais que foram envolvidos nas visitas à família supreendentemente foram também julgados num processo inédito de negligência movido pelo Povo de Los Angeles.   O jogo de empurra não diferencia em absolutamente nada do que vemos por aqui também. Excesso de trabalho, falta de pessoal e a famosa análise da hipótese de que tudo vai acabar bem, são as desculpas universais.  Posso dizer aqui que foi uma das visualizações mais terríveis que já tomei conhecimento, chegando as vezes a usar o lenço de papel para enxugar lágrimas.  O fato aconteceu em 2013 o julgamento em 2016.  Obviamente não vou informar o resultado do julgamento, porque você deve assistir a mini-série, “O CASO GABRIEL FERNANDEZ”  na maior operadora de streaming do país. Não é para fracos não, porque as imagens são assustadoras e terrivelmente cruéis.   Depois me conte e que sirva de lição para todos os profissionais que atuam na área. Criança em risco deve ser acolhida de imediato, sem chance para um segundo episódio. E se tiver oportunidade, leia no meu blogger https://ivanariovaldopegoraro.blogspot.com/  uma matéria que fiz de um caso semelhante ocorrido aqui em Londrina. O título é “Um Crime Indescritível – A Lei de Talião”  publicado em 25/06/2019.

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