sábado, 21 de setembro de 2019




A

MINHA REPÚBLICA
(Ivan Pegoraro)

Acácio a esquerda, Jamil a Direita
         
Euclides, nos braços. Eu a Direita
Rua XV 1820, ap. 7
Com o passar dos anos se intensificou muito as saudades que tenho da minha república, aquela sim imperava uma democracia envolvente nos tempo memoráveis dos anos de chumbo. Naquele tempo éramos,  todos por um,  embora o espaço do apartamento  não fosse assim tão extenso, é verdade. Cada um de nós respeitava o espaço do outro, mas se faltava pasta de dente, com certeza ali estava um companheiro para lhe oferecer a sua. O banheiro era único, mas com o tempo de convivência, enquanto um fazia aquilo o outro tomava banho e tudo era muito suportável. A porta fechada do quarto era sinal de respeito porque ali descansava (?) alguém que labutou o dia inteiro.  A sala de visita foi transformada em quarto para dois. O quarto de casal também era ocupado por dois. E em cada quarto pequeno, era ocupado por um. Nossa república com “r” minúsculo se localizava na Rua XV de Novembro n 1820, em Curitiba e morávamos em seis rapazes, todos estudantes universitários e um ou dois que foram substituídos no decorrer dos anos, profissionais bancários. O Mané Galli casou-se morando lá, e nunca mais o vi. Bancário era muito engraçado, de uma simplicidade envolvente. Acácia Correa Filho, formou-se em direito um poucos antes do que eu, sério, bom companheiro e continua na ativa na capital. Jorge Yared Filho, ambos éramos fanáticos por rádio. Ele trabalhou na rádio Colméia da União da Vitória, eu na antiga Auri Verdi aqui de Londrina. Fazíamos programa de rádio em um gravador portátil simulando uma versão verdadeira que eu apresentava para meu amigo Euclides Cardoso que era diretor da Rádio Guairacá (de Curitiba) na esperança de sermos aproveitados. Eu e Euclides éramos companheiros de sala no Curso de Direito da Faculdade de Direito de Curitiba, noturno,  e junto com o João Carlos Kormann, fazíamos um trio infernal.  Certo dia, Jorge Yared conseguiu se encaixar na Rádio Colombo  e logo depois numa certa manhã, recebi um recado do Euclides de que um locutor havia sido suspenso e eu seria aproveitado.  Fui igual um raio e chegando lá fui direto para o estúdio.  Fiquei fazendo locução uns 10 dias, mas acabei não sendo admitido não sei por que, penso que talvez estivesse tão nervoso que não atendi os interesses da rádio. Jorge continuou e dali galgou seu espaço da mídia Curitibana, inclusive sendo apresentador da TV Iguaçu.  Esteve alguns anos aqui em Londrina, numa loja de alimentação no Shopping Catuaí.  Mas voltando a nossa república, na sala tinha uma TV preto e branco. Não existia controle remoto naquele começo dos anos setenta, mas graça a engenhosidade do Jamil Benke que mora atualmente em Curitiba, conseguimos inventar um sistema altamente eficaz, principalmente para ser usado naqueles dias de inverno brabo quando ficavamos deitados no chão em cima de um cobertor e com outras cobertas até o queixo. Jamil encontrou um cabo de vassoura e em seguida desmontou um pregador de roupa. Juntos as duas peças do pregador na ponta do cabo em paralelo e enrolou com fita isolante. Assim sendo, sem precisar levantar, encaixava as duas peças em paralelo no botão que mudava o canal, e pronto, ninguém se descobria naquele frio. Fui o único que permaneceu todo o período sem mudar de república. Fui para lá nos primeiros dias de faculdade graças ao convite do Francisco Garcia Rodrigues, então bancário. O grupo já tinha cinco moradores contando com ele, e faltava um. Foi um achado posto que até então eu estava em um hotel. Chico como o chamava formou-se comigo também, na mesma turma e hoje também advoga na capital com grande sucesso. Continua tendo em super-bigode, mas agora branco. Pelo que sei, daquela turma todos se deram bem, pois o foco era alcançar a satisfação pessoal e profissional. Jamais houve qualquer tipo de contravenção naquele meio, exceto algumas bebedeiras perfeitamente normais.  Mas me lembro  muito bem de um episódio envolvendo o Acácio, já formado, no seu primeiro ano como advogado. De madrugada vi que ele se levantou e acordei e fui saber o que acontecia. Ele estava pondo gravata. Ao perguntar o porquê da gravata naquela hora, ele me respondeu: “- Estou indo para a delegacia soltar um cliente e sem a gravata posso também ficar preso.”  Nunca me esqueci disso. O advogado, pelo menos naquela época se identificava pela gravata.  Meu amigo Kormann, não morava conosco; já era casado, mas éramos muito ligados. Numa próxima oportunidade vou relatar uma viagem que fizemos à Porto Alegre.  Esta sim a nossa república, tão singela, inocente mesmo... que até hoje não consigo esquecer.

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