domingo, 17 de novembro de 2019


UMA  INCRIVEL  COINCIDÊNCIA  
 FAMILIAR

(Ivan Pegoraro)

Arlete, Clóvis e o Gordini
Fusca 1200 1963
Para a mais fácil compreensão da história que irei contar fato verídico, é necessário conhecer os personagens e sua ligação com este que o relata.  Vamos então distribuir esses participantes em dois grupos, sendo o primeiro, ARLETE PEGORARO e seu marido Clóvis Carneiro,  ela minha tia por parte de pai.      O segundo, ROBERTO VENTURA, já falecido,   meu primo irmão, por parte de mãe e seus amigos que participaram do ocorrido.  Pois, bem! O dia 17 de dezembro de 1963 foi uma terça-feira de verão espetacular. O casamento de Arlete com Clóvis foi marcado nesta data porque o natal já se anunciava e a semana era preguiçosa, possibilitando que parentes de fora também viessem prestigiar aquela tão esperada cerimônia.  Após o enlace – no dia seguinte -  coberto com o glamour da época, o jovem casal embarcou num Gordini cinza do ano e lançou-se numa viagem espetacular em direção a Bahia para curtirem fervorosamente a sua lua-de-mel.  O destino escolhido tinha uma razão; além de Clóvis levar sua amada em direção ao misterioso e atraente Nordeste, sua família era toda originária daquele Estado, mais precisamente de Feira de Santana.  Além de curtirem as praias maravilhosas da Bahia, Clóvis iria apresentar a sua formosa esposa aos seus parentes, a maioria, que não pode comparecer ao casamento. Os 2.250 quilômetros mediados de Londrina àquela cidade não seria nada, comparado a aventura da viagem. Gordini era o carro da moda. Pequeno, versátil com um bom quebra-vento e 37 cavalos de força.  Se comparado com ao Ford Fuzion que tem 143 cavalos, você leitor terá como avaliar o desempenho deste espetacular carrinho dos anos sessenta.  O casal chegou à Bahia três dias depois sem qualquer problema e lá aproveitaram o máximo as belezas naturais, e principalmente a convivência curta com os novos parentes de Arlete. No dia 23 de janeiro de 1964, mais de um mês depois de terem partido de Londrina, iniciaram de madrugada o retorno via Rodovia 116, em direção à Teófilo Otoni em Minas Gerais. Jornada de aproximadamente 750 quilômetros onde pretendiam pernoitar.  De lá o caminho natural único seria São Paulo Capital, em seguida a Rodovia Raposo Tavares em direção ao Paraná.  Também no final do ano de 1963,  ROBERTO VENTURA, IVAN FUGANTI  e um terceiro amigo, todos também residentes em Londrina, e conhecidos do primeiro grupo, também embarcaram num potente Fusca do ano, de cor verde pastel de propriedade do primeiro, com irresistíveis 36 cavalos de força e foram aventurar também no Nordeste, numa viagem que emplacaria vários Estados daquela região. Os grupos não sabiam do destino um do outro, sequer que iriam viajar na mesma direção. Roberto e seus amigos aproveitaram o máximo que a juventude dos vinte e poucos anos podia favorecer, e depois de desgastados de tanta fartura de lazer, também resolveram retornar para Londrina. A Bahia já tinha dado tudo que podia àqueles alegres rapazes pés-vermelhos. Agora, era retornar simplesmente.       Clóvis por sua vez, saindo de Feira de Santava dirigia há mais de 11 horas e o calor era infernal. O radinho AM já pegava as rádios de Teófilo Otoni e Roberto Yanes fazia sucesso cantando Sabrás Que Te Quiero.   Já perto do primeiro destino de parada que seria Teófilo Otoni, escurecendo,  a chuva e o vento próprio das mangas d’águas de verão começou a castigar a rodovia tornando-a perigosa dado aos fluidos deixados por caminhões na pista,  aliado aos pedriscos que voavam a toda força, agravado pelos pneus fininhos do garboso Gordini. A parte da estrada naquele momento era de ribanceira no lado direito da direção tomada por Clóvis, que dirigia com cuidado.  Arlete preocupada mantinha sua atenção total na pista, ajudando a desembaçar o para-brisa de seu lado e articulando palavras de apoio. Não é preciso dizer que ar-condicionado não fazia nem parte do repertório do brasileiro. O único existente em Londrina era do Cine Ouro Verde. De repente uma curva à esquerda obriga uma pequena pisada no freio e o carro se descontrola momentaneamente o suficiente para se desgarrar da pista, fazer um cavalo-de-pau e se lançar de frente em direção a ribanceira. Arte grita; Clóvis berra: - ÔXENTE -.   Cinto de segurança era ainda uma utopia existente apenas nos aviões. Arlete arregala os olhos, enquanto que Clóvis agarra o volante com sua força viril. E o garboso Gordini bate de bico no fundo do precipício uns 4 metros abaixo, após levar consigo uns tantos galhos e pequenas árvores que amorteceram a pancada que poderia ser fatal. O motorista ficou preso no volante e lutava para sair daquele embaraço. Arlete desesperada sai pela janela, e gritando começa a escalar o barranco, suja de barro com a água da chuva caindo pelo seu rosto.  Atinge a borda do precipício, se levanta e com os dois braços agitados, sem sapatos, e com a blusa rasgada se sacode e pede socorro ao primeiro veículo que passa por alí.    Um fusca verde vem vindo com as luzes acessas.  Arlete grita e o veículo para em sua frente. E ela vê placa com inicio 15. Placa de Londrina.  Não acredita, pois sendo de sua cidade já era um conforto, tão longe de seu destino.  A porta se abre, desce Roberto Ventura, e Arlete grita: - Roberto, não é possível. Socorro, Clóvis está preso lá em baixo. -  Todos descem e socorrem Clóvis ajudando-o a sair do veículo. Nada de grave, pequenas escoriações e muito susto imediatamente aliviados pela presença de três conterrâneos, todos conhecidos, até amigos, sendo que Roberto, como disse no começo, é primo do sobrinho Ivan, e naquela Londrina de 1963, todos se conheciam e até conviviam nas festas e outras atividades, como por exemplo, frequentar o Country Clube.  Todos acalmados e surpresos que o acidente tenha se limitado ao Gordini, nada mais podia ser feito ali naquele momento. Embarcaram todos no Fusca 1200 do Ventura e ainda levaram as malas do casal. Como isso tudo coube no valente fusca e como conseguiu rodar até chegar a Teófilo Otoni a história não conta.  Mas dá para imaginar. Arlete no colo de Clóvis; Roberto Ventura dirigindo e Ivan Fuganti na frente, e ao lado do casal, o terceiro personagem, cujo nome precisa ser resgatado por alguém que vier a ler este relato. Acrescentarei posteriormente seu nome.   Os amigos deixaram o casal no hotel e seguiram viagem, após terem a certeza de Clóvis de que daria sequencia no dia seguinte para resolver o problema do Gordini no fundo da vala.  De fato, no dia seguinte, contrataram um caminhão guincho que conseguiu retirar o veículo daquele buraco infernal. Pasme os senhores que o Valente Gordini, fez valer a sua fama de carro robusto, forte e intrépido. Todo amassado, até meio torto, conseguiu retornar até São Paulo. Levou uns dois dias, mas chegou!!   Deu trabalho convencer a Polícia Rodoviária e rodar daquele jeito; mas, Clóvis e Arlete com a graciosidade de um jovem casal retornando de lua de mel, conseguiram o intento.   Arlete sabendo que Hélio Solci, seu cunhado estava em Praia Grande no litoral, fez contato por telefone e pediu um segundo socorro, porque se constatou que o Gordini estava desmanchando e não ira conseguir chegar até Londrina. Piloto que era e tinha seu própria avião, prefixo   PT-APM, não se fez de rogado e deu-lhes uma segundo presente de casamento, trazendo-os em grande estilo até a Capital Mundial do Café – que então detinha este nome nossa cidade – a bordo daquele famoso Cessna.  A família de Arlete, todos preocupados e aliviados foram ao aeroporto receber o jovem casal, que desceu do avião acenando como personagens principais de uma grande aventura.  De resto, Ventura e os amigos, terminaram o retorno sem nenhuma intercorrência. Nos encontros das famílias, só se falava de grande coincidência.  Já imaginaram isso. A pessoa cai em um barranco nos Confundó do Judas. Sobe a ribanceira para pedir socorro; o primeiro carro que passa é um amigo e quase parente. Isso sim é coincidência.

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