UMA INCRIVEL COINCIDÊNCIA
FAMILIAR
(Ivan
Pegoraro)
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Arlete, Clóvis e o Gordini |
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Fusca 1200 1963 |
Para a mais fácil compreensão
da história que irei contar fato verídico, é necessário conhecer os personagens
e sua ligação com este que o relata.
Vamos então distribuir esses participantes em dois grupos, sendo o primeiro, ARLETE PEGORARO e seu marido Clóvis
Carneiro, ela minha tia por parte de
pai. O segundo, ROBERTO VENTURA, já falecido, meu primo irmão, por parte de mãe e seus
amigos que participaram do ocorrido.
Pois, bem! O dia 17 de dezembro de 1963 foi uma terça-feira de verão
espetacular. O casamento de Arlete com Clóvis foi marcado nesta data porque o
natal já se anunciava e a semana era preguiçosa, possibilitando que parentes de
fora também viessem prestigiar aquela tão esperada cerimônia. Após o enlace – no dia seguinte - coberto com o glamour da época, o jovem casal
embarcou num Gordini cinza do ano e lançou-se numa viagem espetacular em
direção a Bahia para curtirem fervorosamente a sua lua-de-mel. O destino escolhido tinha uma razão; além de
Clóvis levar sua amada em direção ao misterioso e atraente Nordeste, sua
família era toda originária daquele Estado, mais precisamente de Feira de
Santana. Além de curtirem as praias
maravilhosas da Bahia, Clóvis iria apresentar a sua formosa esposa aos seus
parentes, a maioria, que não pode comparecer ao casamento. Os 2.250 quilômetros
mediados de Londrina àquela cidade não seria nada, comparado a aventura da
viagem. Gordini era o carro da moda. Pequeno, versátil com um bom quebra-vento
e 37 cavalos de força. Se comparado com ao
Ford Fuzion que tem 143 cavalos, você leitor terá como avaliar o desempenho
deste espetacular carrinho dos anos sessenta.
O casal chegou à Bahia três dias depois sem qualquer problema e lá
aproveitaram o máximo as belezas naturais, e principalmente a convivência curta
com os novos parentes de Arlete. No dia 23 de janeiro de 1964, mais de um mês
depois de terem partido de Londrina, iniciaram de madrugada o retorno via
Rodovia 116, em direção à Teófilo Otoni em Minas Gerais. Jornada de
aproximadamente 750
quilômetros onde pretendiam pernoitar. De lá o caminho natural único seria São Paulo
Capital, em seguida a Rodovia Raposo Tavares em direção ao Paraná. Também no final do ano de 1963, ROBERTO VENTURA, IVAN FUGANTI e um terceiro amigo, todos também residentes
em Londrina, e conhecidos do primeiro grupo, também embarcaram num potente
Fusca do ano, de cor verde pastel de propriedade do primeiro, com irresistíveis
36 cavalos de força e foram aventurar também no Nordeste, numa viagem que
emplacaria vários Estados daquela região. Os grupos não sabiam do destino um do
outro, sequer que iriam viajar na mesma direção. Roberto e seus amigos
aproveitaram o máximo que a juventude dos vinte e poucos anos podia favorecer,
e depois de desgastados de tanta fartura de lazer, também resolveram retornar
para Londrina. A Bahia já tinha dado tudo que podia àqueles alegres rapazes
pés-vermelhos. Agora, era retornar simplesmente. Clóvis por sua vez, saindo de Feira de
Santava dirigia há mais de 11 horas
e o calor era infernal. O radinho AM já pegava as rádios de Teófilo Otoni e
Roberto Yanes fazia sucesso cantando Sabrás Que Te Quiero. Já
perto do primeiro destino de parada que seria Teófilo Otoni, escurecendo, a chuva e o vento próprio das mangas d’águas
de verão começou a castigar a rodovia tornando-a perigosa dado aos fluidos
deixados por caminhões na pista, aliado
aos pedriscos que voavam a toda força, agravado pelos pneus fininhos do garboso
Gordini. A parte da estrada naquele momento era de ribanceira no lado direito da
direção tomada por Clóvis, que dirigia com cuidado. Arlete preocupada mantinha sua atenção total
na pista, ajudando a desembaçar o para-brisa de seu lado e articulando palavras
de apoio. Não é preciso dizer que ar-condicionado não fazia nem parte do
repertório do brasileiro. O único existente em Londrina era do Cine Ouro Verde.
De repente uma curva à esquerda obriga uma pequena pisada no freio e o carro se
descontrola momentaneamente o suficiente para se desgarrar da pista, fazer um
cavalo-de-pau e se lançar de frente em direção a ribanceira. Arte grita; Clóvis
berra: - ÔXENTE -. Cinto de segurança era ainda uma utopia existente
apenas nos aviões. Arlete arregala os olhos, enquanto que Clóvis agarra o
volante com sua força viril. E o garboso Gordini bate de bico no fundo do
precipício uns 4 metros abaixo, após levar consigo uns tantos galhos e pequenas
árvores que amorteceram a pancada que poderia ser fatal. O motorista ficou
preso no volante e lutava para sair daquele embaraço. Arlete desesperada sai
pela janela, e gritando começa a escalar o barranco, suja de barro com a água
da chuva caindo pelo seu rosto. Atinge a
borda do precipício, se levanta e com os dois braços agitados, sem sapatos, e
com a blusa rasgada se sacode e pede socorro ao primeiro veículo que passa por
alí. Um fusca verde vem vindo com as luzes
acessas. Arlete grita e o veículo para
em sua frente. E ela vê placa com inicio 15. Placa de Londrina. Não acredita, pois sendo de sua cidade já era
um conforto, tão longe de seu destino. A
porta se abre, desce Roberto Ventura, e Arlete grita: - Roberto, não é possível. Socorro,
Clóvis está preso lá em baixo. - Todos descem e socorrem Clóvis ajudando-o a
sair do veículo. Nada de grave, pequenas escoriações e muito susto
imediatamente aliviados pela presença de três conterrâneos, todos conhecidos,
até amigos, sendo que Roberto, como disse no começo, é primo do sobrinho Ivan,
e naquela Londrina de 1963, todos se conheciam e até conviviam nas festas e
outras atividades, como por exemplo, frequentar o Country Clube. Todos acalmados e surpresos que o acidente
tenha se limitado ao Gordini, nada mais podia ser feito ali naquele momento.
Embarcaram todos no Fusca 1200 do Ventura e ainda levaram as malas do casal.
Como isso tudo coube no valente fusca e como conseguiu rodar até chegar a
Teófilo Otoni a história não conta. Mas
dá para imaginar. Arlete no colo de Clóvis; Roberto Ventura dirigindo e Ivan
Fuganti na frente, e ao lado do casal, o terceiro personagem, cujo nome precisa
ser resgatado por alguém que vier a ler este relato. Acrescentarei
posteriormente seu nome. Os amigos
deixaram o casal no hotel e seguiram viagem, após terem a certeza de Clóvis de
que daria sequencia no dia seguinte para resolver o problema do Gordini no
fundo da vala. De fato, no dia seguinte,
contrataram um caminhão guincho que conseguiu retirar o veículo daquele buraco
infernal. Pasme os senhores que o Valente Gordini, fez valer a sua fama de
carro robusto, forte e intrépido. Todo amassado, até meio torto, conseguiu
retornar até São Paulo. Levou uns dois dias, mas chegou!! Deu trabalho convencer a Polícia Rodoviária e
rodar daquele jeito; mas, Clóvis e Arlete com a graciosidade de um jovem casal
retornando de lua de mel, conseguiram o intento. Arlete sabendo que Hélio Solci, seu cunhado
estava em Praia Grande no litoral, fez contato por telefone e pediu um segundo
socorro, porque se constatou que o Gordini estava desmanchando e não ira
conseguir chegar até Londrina. Piloto que era e tinha seu própria avião,
prefixo PT-APM, não se fez de rogado e
deu-lhes uma segundo presente de casamento, trazendo-os em grande estilo até a
Capital Mundial do Café – que então detinha este nome nossa cidade – a bordo
daquele famoso Cessna. A família de
Arlete, todos preocupados e aliviados foram ao aeroporto receber o jovem casal,
que desceu do avião acenando como personagens principais de uma grande
aventura. De resto, Ventura e os amigos,
terminaram o retorno sem nenhuma intercorrência. Nos encontros das famílias, só
se falava de grande coincidência. Já
imaginaram isso. A pessoa cai em um barranco nos Confundó do Judas. Sobe a
ribanceira para pedir socorro; o primeiro carro que passa é um amigo e quase
parente. Isso sim é coincidência.
Incrível! belo relato...!
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