A PRAIA DE OMAHA – 4.500 MORTOS
(Ivan Pegoraro)
Lanchas de desembarques |
Era uma tarde de quinta-feira, mês de maio de 2009. O dia era cinzento, frio e sem sol e com algum vento vindo do mar. As características eram de chuvas. Estacionamos o veículo para visitar aquela praia onde o silêncio falava mais do que um milhão de palavras. Tive a impressão de ouvir um trovão como se fosse um rugido de canhão.
Praia de Omaha |
Há 64 anos, com certeza aquele seria um tiro de
canhão. Senti um arrepio da espinha dorsal enquanto caminhava em direção as
falésias (despenhadeiros) com cerca de 45 metros de alturas. Na sua borda, uma
escada em ziguezague levava até a praia. Descemos ouvindo tiros, gritos,
ordens, lamentos, guinchos e rajadas.
Parei um pouco o sacudi a cabeça, pois estávamos ali apenas nós três.
Soldados sendo atendidos |
Eu, minha esposa e meu filho Bruno. Não
havia gritos, nem lamentos, nem tiros e nem rajadas. Era minha imaginação que trazia até os meus
olhos a cena dantesca daquele dia 6 de junho de 1946, quando as tropas
americanas desembarcaram na Normandia, França, na praia de Omaha, um dos cinco
setores destinados à invasão dos aliados para recuperar o território francês do
poderio alemão. Embora toda a operação de desembarque denominada de Overlord
tenha sido ao final do período um grande sucesso pelos aliados e que levou a
libertação da França, o desembarque propriamente dos americanos na praia de
Omaha – nome em código da sua área destinada ao desembarque, não teve assim um grande sucesso por
vários fatores. Na verdade, todo o projeto saiu praticamente errado.
Dificuldades imensas na navegação das lanchas de desembarques fizeram com que
os pontos pré-determinados errassem seus destinos, pois chovia e ventava muito.
A linha de defesa dos alemães, exatamente postados no cume das falésias, ali de
onde olhei espantado para baixo quando cheguei, era espantosamente pesada e
dada a sua condição infligiram aos soldados americanos baixas terríveis,
matando soldados a granel. Muitos morriam ao deixar as barcaças atingidas pelas
metralhadoras ponto 50, cortando-os ao meio. Na praia, caminhei naquela areia
onde tantos corpos caíram. Olhei para cima criando a figura da defesa preparada
pelos alemães e senti todo o impacto terrível que aqueles soldados, fossem eles
praças, sargentos ou oficiais, sentiram ao se depararem com aquela tragédia
anunciada. Entre 4.500 e 5.000 homens perderam suas vidas naquele dia naquele
local. Foi um banho de sangue numa área
não maior do que oito quilómetros de extensão.
Avião de caça P-47 Thunderbolt |
De repente, caminhando sozinho por um trecho da praia, ouvi ao longe um
ronco de um avião, que foi se aproximando aos poucos. Estava baixo, na altura do topo das falésias,
mas vinha pela praia. Era um P-47 Thunderbolt, avião de caça utilizado pelos
americanos e também pela Força Aérea Brasileira. Certamente um colecionador. Bem onde estávamos
o avião balançou as asas para a esquerda e para a direita várias vezes. É o
cumprimento que um piloto faz quando em voo ou quando quer prestar uma
homenagem. Naquele momento vi a história
real. Um avião da época, num ronco verdadeiro. Fiquei olhando até desaparecer
de vistas. Apanhei um pouco de areia e segurei durante alguns momentos, cônscio
de que ali, naquele local uma nova era começou.
Soltei a areia, olhei para minha mulher e meu filho e disse.
Vamos...!!!! Mas minha voz quase não saiu. Mas os dois entenderam. E fomos.
O silência da Praia de Omaha |
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