quinta-feira, 28 de novembro de 2019


A  PRAIA  DE  OMAHA – 4.500  MORTOS
(Ivan Pegoraro)

Lanchas de desembarques







Era uma tarde de quinta-feira, mês de maio de 2009. O dia era cinzento, frio e sem sol e com algum vento vindo do mar. As características eram de chuvas.  Estacionamos o veículo para visitar aquela praia onde o silêncio falava mais do que um milhão de palavras. Tive a impressão de ouvir um trovão como se fosse um rugido de canhão. 
Praia de Omaha




Há 64 anos, com certeza aquele seria um tiro de canhão. Senti um arrepio da espinha dorsal enquanto caminhava em direção as falésias (despenhadeiros) com cerca de 45 metros de alturas. Na sua borda, uma escada em ziguezague levava até a praia. Descemos ouvindo tiros, gritos, ordens, lamentos, guinchos e rajadas.  Parei um pouco o sacudi a cabeça, pois estávamos ali apenas nós três. 

Soldados sendo atendidos

Eu, minha esposa e meu filho Bruno.  Não havia gritos, nem lamentos, nem tiros e nem rajadas.  Era minha imaginação que trazia até os meus olhos a cena dantesca daquele dia 6 de junho de 1946, quando as tropas americanas desembarcaram na Normandia, França, na praia de Omaha, um dos cinco setores destinados à invasão dos aliados para recuperar o território francês do poderio alemão. Embora toda a operação de desembarque denominada de Overlord tenha sido ao final do período um grande sucesso pelos aliados e que levou a libertação da França, o desembarque propriamente dos americanos na praia de Omaha – nome em código da sua área destinada ao  desembarque, não teve assim um grande sucesso por vários fatores. Na verdade, todo o projeto saiu praticamente errado. Dificuldades imensas na navegação das lanchas de desembarques fizeram com que os pontos pré-determinados errassem seus destinos, pois chovia e ventava muito. A linha de defesa dos alemães, exatamente postados no cume das falésias, ali de onde olhei espantado para baixo quando cheguei, era espantosamente pesada e dada a sua condição infligiram aos soldados americanos baixas terríveis, matando soldados a granel. Muitos morriam ao deixar as barcaças atingidas pelas metralhadoras ponto 50, cortando-os ao meio. Na praia, caminhei naquela areia onde tantos corpos caíram. Olhei para cima criando a figura da defesa preparada pelos alemães e senti todo o impacto terrível que aqueles soldados, fossem eles praças, sargentos ou oficiais, sentiram ao se depararem com aquela tragédia anunciada. Entre 4.500 e 5.000 homens perderam suas vidas naquele dia naquele local.  Foi um banho de sangue numa área não maior do que oito quilómetros de extensão. 


Avião de caça P-47 Thunderbolt

De repente, caminhando sozinho por um trecho da praia, ouvi ao longe um ronco de um avião, que foi se aproximando aos poucos.  Estava baixo, na altura do topo das falésias, mas vinha pela praia. Era um P-47 Thunderbolt, avião de caça utilizado pelos americanos e também pela Força Aérea Brasileira.  Certamente um colecionador. Bem onde estávamos o avião balançou as asas para a esquerda e para a direita várias vezes. É o cumprimento que um piloto faz quando em voo ou quando quer prestar uma homenagem.  Naquele momento vi a história real. Um avião da época, num ronco verdadeiro. Fiquei olhando até desaparecer de vistas. Apanhei um pouco de areia e segurei durante alguns momentos, cônscio de que ali, naquele local uma nova era começou.  Soltei a areia, olhei para minha mulher e meu filho e disse. Vamos...!!!! Mas minha voz quase não saiu. Mas os dois entenderam. E fomos.


O silência da Praia de Omaha




Praia de Omaha e as falésias


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