UM SAPATO PENDURADO NO AR
(Ivan Pegoraro)
Ali naquela esquina da Avenida Higienópolis
com a Rua Humaitá, há meses pende enrolado nos fios elétricos um par de sapatos
ligados pelo cadarço. Desde a primeira vez que por ali passei e percebi aquela
obra de arte de pontaria certeira, fico a me perguntar de que maneira foi
lançado aquele artefato. De onde? E por que? E por quem? Não bastassem essas
indagações que daria uma história interessante, o motivo deste ato é muito mais
singular. Que estranha magia teria passado na cabeça daquele herói anônimo do
mais novo esporte nacional, de lançar naquela altura, um par de sapatos ligados
pelo cadarço. A quem pertenceu aquele calçado. Quantas passos foram dados pelo
seu dono? Que alegrias presenciou, ou mesmo quantas tristezas chorou
neste mundo sem fim, carregando sem reclamar o peso daquele que o comanda? O sapato não tem vontade própria; é um elemento desprezado. Certamente essas indagações são interessantes, cujas respostas jamais saberemos, pois se trata de um
monumento pendente numa avenida famosa como se dissesse aos transeuntes: -
Eu sou, o sapato solitário!!!! “ Não quero discutir a
realidade deste monumento a permitir pensamentos distantes e sem qualidade ou
mesmo motivo. Cada vez que passo pelo cruzamento, penso nos pés que o calçou.
Ficou descalço seu proprietário? Tentou retirar o seu acessório de lá?
Certamente não tentou, pois impossível retirá-lo sem equipamento próprio e
convenientemente autorizado por quem conhece os riscos desta
empreitada. Mas continuando a pensar cheguei a conclusão de que os
sapatos no fio elétrico da avenida, é um marco. Tornou-se um ponto de encontro
do cidadão londrinense a admirar a proeza do lançamento, absolutamente
certeiro. É por isso mesmo que o Órgão Público não o retirou de lá mesmo
passado meses de sua disponibilização à visitação pública. Os sapatos no
ar tornaram-se um ponto de referência. Assim a esposa ao perguntar ao
marido pelo celular: “- fulano onde
você està?” Ele estão
responderá: “- passando pelo sapato
aéreo.” Enfim, nossa
cidade está abundante de coisas interessantes. Basta olhar.
Ótimo texto Dr. Ivan. "Pequenas" coisas e expressão de sentimentos são necessárias e fazem grande falta nos dias atuais!
ResponderExcluirIvan sempre que vejo sapatos pendurados assim faço as mesmas indagações, mas nunca comentei com ninguém. Amei o texto
ResponderExcluir