sábado, 6 de julho de 2019


UM SAPATO PENDURADO NO AR
(Ivan Pegoraro)

Ali naquela esquina da Avenida Higienópolis com a Rua Humaitá, há meses pende enrolado nos fios elétricos um par de sapatos ligados pelo cadarço. Desde a primeira vez que por ali passei e percebi aquela obra de arte de pontaria certeira, fico a me perguntar de que maneira foi lançado aquele artefato. De onde? E por que? E por quem? Não bastassem  essas indagações que daria uma história interessante, o motivo deste ato é muito mais singular. Que estranha magia teria passado na cabeça daquele herói anônimo do mais novo esporte nacional, de lançar naquela altura, um par de sapatos ligados pelo cadarço. A quem pertenceu aquele calçado. Quantas passos foram dados pelo seu dono?  Que alegrias presenciou, ou mesmo quantas tristezas chorou neste mundo sem fim, carregando sem reclamar o peso daquele que o comanda? O sapato não tem vontade própria; é um elemento desprezado. Certamente  essas indagações são  interessantes,  cujas respostas jamais saberemos, pois se trata de um monumento pendente numa avenida famosa como se dissesse aos transeuntes: - Eu sou, o sapato solitário!!!! Não quero discutir a realidade deste monumento a permitir pensamentos distantes e sem qualidade ou mesmo motivo. Cada vez que passo pelo cruzamento, penso nos pés que o calçou. Ficou descalço seu proprietário?  Tentou retirar o seu acessório de lá?  Certamente não tentou, pois impossível retirá-lo sem equipamento próprio e convenientemente autorizado por quem conhece os riscos desta empreitada.   Mas continuando a pensar cheguei a conclusão de que os sapatos no fio elétrico da avenida, é um marco. Tornou-se um ponto de encontro do cidadão londrinense a admirar a proeza do lançamento, absolutamente certeiro. É por isso mesmo que o Órgão Público não o retirou de lá mesmo passado meses de sua disponibilização à visitação pública.  Os sapatos no ar tornaram-se um ponto de referência.  Assim a esposa ao perguntar ao marido pelo celular: - fulano onde você està?    Ele estão responderá:  - passando pelo sapato aéreo.   Enfim, nossa cidade está abundante de coisas interessantes. Basta olhar.






2 comentários:

  1. Ótimo texto Dr. Ivan. "Pequenas" coisas e expressão de sentimentos são necessárias e fazem grande falta nos dias atuais!

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  2. Ivan sempre que vejo sapatos pendurados assim faço as mesmas indagações, mas nunca comentei com ninguém. Amei o texto

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