UMA ALMA ALIVIADA
(Ivan Pegoraro)
Desde quando comecei a
escrever publicamente em meu Blogger e agora para a
radiopaiquerenews.com.br algumas noites
tenho passado em branco sem pregar o olho, ou dormindo pouco com certos temas
que de repente começam a me atormentar, até consegui-lo publicar, acarretando
assim um alívio extremo e reconfortante como quando apresentei um dos meus
demônios no artigo “O FOGO DO INFERNO” (https://ivanariovaldopegoraro.blogspot.com/2019/04/o-fogo-do-inferno-um-historia-real-ivan.html)
.
D.
Geremias o atual Arcebispo de alguns londrinenses, despertou em mim uma ira e amargura profunda
e remexeu com minhas memórias que pensei estar calcificadas. Mas não estão e
como uma vulcão ativo explodiram dentro de mim e se não os compartilhar creio
que ficarei louco e não farei outra
coisa senão rememorar este flagelo. Pois bem. Com oito anos de idade sai do Colégio
Londrinense onde estudei o primeiro e
segundo ano primário e me transferi para o recente colégio religioso inaugurado
no ano de 1965. Minha primeira professora do Londrinense, Dona Clarice Storti
esta vivinha e muito bem de saúde. Nunca me puniu. Por
que esta mudança de colégio ocorreu? Não
sei. Talvez porque meus pais achassem ser a melhor opção e que realmente penso
que foi, pois, por bem ou por mal tive alí uma excelente formação moral com as
exceções relatadas neste artigo. O ensino religioso era extremamente exigente,
a ponto de se rezar terço todos os dias, confessar todas as semanas e assistir à
missa toda sexta-feira. Ingênuo e despreparado, numa dessas
confissões onde o confessionário estava instalado de forma bem apropriada
dentro da sacristia da capela no segundo andar do colégio, em situação de total
impedimento de visão, ajoelhei-me para começar a contar meus pecados
gravíssimos cometidos na minha idade de
oito ou nove anos. Não me lembro bem deles
- os pecados - mas talvez, seriam, briguei com minha mãe, não fiz a tarefa,
xinguei meu amigo na rua e por ai vai. Isso após o ato de constrição. Contudo
me lembro bem quando aquele maldito padre estendeu seu braço pela borda de onde
ele estava sentado no confessionário e
como um verdadeiro demônio tentou começar a me alisar nas minhas partes íntimas
- uma criança indefesa. Não entendi bem o que estava acontecendo e
assustado tive a coragem infantil de não aguardar a recomendação de rezar dez
ave-marias e trinta pais-nossos para redimir meus pecados. Não permiti que
qualquer ato se consumasse ali naquele lugar sagrado. Levantei-me dali e sai
possivelmente desfigurado. Nunca mais consegui me confessar como deveria a
exceção um dia no meu Escritório há alguns anos quando da visita do padre Toninho
Radiogonda ao seu amigo Leate, este meu
sócio, disse eu a ele que pretendia
fazê-lo mas de meu modo. Ele aceitou e
assim iniciei –“Cometi todos os pecados,
menos alguns e estou arrependido” Ele me absolveu e creio que foi a confissão
mais rápida do mundo, sem penitência. Se valeu, não sei e nem estou muito
preocupado. Passado muitos anos daquele
fatídico dia da tentativa de exploração sexual pelo maldito predador, sentados
no Country Club com vários amigos e colegas, aguardado nossa vez para jogar
tênis, o mais novo ali talvez com cinquenta anos na época, de forma muito
subliminar começamos a rememorar do nosso tempo naquele colégio. O assunto foi
indo e mencionei – pela primeira vez – a
obrigação da confissão naquela época com
o padre que era sempre convocado junto a Igreja ali do Shangri-la de onde era o
pároco. Falei que a confissão era assustadora porque havia um padre pedófilo
naquela época que frequentava nosso colégio ouvindo confissões e presidindo a
missa. Nossa conversa despropositada e
sem compromisso foi um rastilho de pólvora porque naquele momento um desses
meus amigos e colega de profissão cujo pai era na época muito importante na
cidade, mas muito mesmo, me disse que ao contrário do silencio que eu mantive
mantendo acessa a minha chama do purgatório até neste momento em que escrevo
isso, relatou o fato ao seu pai, que por sua vez levou o assunto até o bispo D.
Geraldo Fernandes, que então transferiu aquele miserável para alguma outra
localidade para atacar certamente outros meninos ingênuos e desprotegidos. Este
mesmo colégio – que repito aqui – contribuiu deforma indireta e sem intenção com
o evento pelo fato de ter convocado
aquele infeliz para as confissões me reprovou na sequencia por dois anos. Uma
vez no terceiro ano primário em aritmética por ínfimos menos de meio ponto. E
depois também por ínfimos menos de um ponto para chegar a cinco que era nota
mínima para passar de ano. Atrasei dois
anos na minha vida profissional e sequer aqueles religiosos procuraram saber o
motivo da minha deficiência naquela matéria. Repetir o ano era uma tradição violenta e
economicamente muito sadia. Nesta mesma linha de procedimento fiquei muitas
vezes de castigo de pé atrás da porta do Reitor. Pelos menos umas dez vezes
fiquei de pé olhando para parede no corredor de saída na hora do término das
aulas, onde como verdadeiro corredor polonês os alunos passavam para olhar o
castigo infligido para um mau elemento,
que não fez tarefa, xingou algum amigo ou não obedeceu como deveria as ordens
do professor. Os alunos passavam, mas
não poderiam de jeito nenhum fazer troças ou comentar alguma coisa, ou tirar
”sarro” como se diz. Lá fora podia. Lá dentro não! E assim foi.
No mês passado – junho de 2019 – fiz contato com a secretaria do colégio
de onde sai em 1965 para cursar o Clássico naquele Colégio Londrinense onde fiz
o primeiro e segundo ano primário.
Solicitei que me fosse fornecido todo e qualquer documento que ali
estivesse arquivado no meu dossiê pois queria resgatar minhas memórias históricas
e saber por que fora punido tantas
vezes? Por que em algumas recebi menções meritórias? Por que sendo único pistonista mor da fanfarra
(aquele que toca pistão ou trompete) não
me levaram por castigo, ao Rio de Janeiro em 1963 para tocar no Estádio do
Maracanã no Jogo Santos contra Milan. Por que fui suspenso várias vezes,
algumas de até por uma semana com proibição de frequentar as aulas? Queria
analisar isso. Queria entender esses fatos que hoje me apertam a garganta e me
fazem lacrimejar como neste momento acontece na redação deste artigo. Fiz o
requerimento mencionando a lei de acesso a informação de nº Lei nº 12.527/2011 e aguardei o
resultado. Passado alguns dias me liga a secretária muito educada é verdade,
tendo o disparate de me dizer que eu não precisava mencionar a lei porque
os documentos estavam a disposição. Então pedi a ela que preparasse todo e
qualquer documento que tivesse o meu nome no período do ano de 1958 até
1965. Queria saber de tudo aquilo que
mencionei acima, principalmente porque fora punido tantas vezes a ponto de
carregar um trauma até agora, já idoso. Lembrem-se, quem lê essas linhas, que isso tudo veio a
flora na figura deste malsinado D. Geremias. A secretária simplesmente me disse
que os únicos documentos que havia no colégio com meu nome era o histórico
escolar, com as notas e nada mais. Miseráveis!!!! Por que fizeram perder no
tempo os fatos que mereceriam a análise histórica de quem participou da sua
ocorrência e marcou a sua vida??? Gostaria de saber se essas ocorrências foram
tão graves assim. Queria me conhecer melhor. Gostaria de saber a intensidade da minha
formação. Gostaria de saber se tudo isso poderia ser comparado com tentativa de assédio sexual que sofri dentro
daquele colégio. O histórico das notas
não me interessa mais. Mas ao receber a
notícia de que não existia nada daqueles registros, me senti mais humano e mais
aliviado, pelo simples fato de terem eliminado provas materiais deste absurdo
comportamento tirânico de então. Ou então nunca existiram, tudo não passando de
um jogo de cena para demonstrar como deveriam os alunos se comportar. Talvez eu
sendo filho de um simples padeiro tenha servido de exemplo. Onde entra
Geremias???? Não sei bem, confesso. Quando percebi que o mesmo é contra a riqueza,
esta que pode minorar a pobreza, cheguei
a conclusão que ele é também um predador da alma humana. Um protetor do quanto
pior, melhor. Quem deveria ficar de castigo voltado para a parede na Avenida
Paraná, deveria ser você Geremias. E não crianças de nove anos.
Obrigada por compartilhar sua história, dores e pensamentos. Pessoas que estão em busca sempre me interessam. Sendo vc uma pessoa tão eapecial para mim, me interessa mais ainda. Que sua busca te leve a curar seus traumas assim como já te levam ao caminho do amor e da justiça. Te amo!
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